Para chegar até lá, a viagem começa na cidade de Punta Arenas, base dos cruzeiros de expedição através do mítico Estreito de Magalhães, a passagem de 600 quilômetros entre os oceanos Pacífico e Atlântico, que leva o nome do navegador português Fernão de Magalhães, que viajou pela região em 1520. Foi ele, também, que batizou o lugar de Terra do Fogo ao avistar as fogueiras acesas pelos nativos.
Considerada a “Capital da Patagônia Chilena”, Punta Arenas – onde se encontra o principal aeroporto da região – sempre foi o ponto de partida para as grandes expedições à Antártica. Está a 315 quilômetros das famosas Torres del Paine, uma região preservada com paisagem belíssima, imponentes torres de granito, lagos, geleiras, rios, cachoeiras, florestas, flora e fauna nativa.
Todos a bordo, vai começar a aventura!
É bom deixar claro que essa não é uma viagem qualquer. É preciso ter espírito aventureiro. Esse tipo de turismo de experiência exige muita disposição e preparo físico, pois expõe os participantes a temperaturas baixas – e sensação térmica que pode chegar a muitos graus abaixo de zero -, chuva, neve e águas geladas.
Tudo é feito com muita segurança e conforto a bordo dos navios da Australis, companhia especializada em navegação nessa região de clima complicado e águas turbulentas. Suas duas embarcações – Ventus Australis e Stella Australis – realizam cruzeiros de sete, quatro e três noites que saem de Punta Arenas com destino a Ushuaia (Argentina) e vice-versa. É possível iniciar um cruzeiro da Australis tanto no Chile, quanto na Argentina. Nos roteiros estão o Estreito de Magalhães, o Canal de Beagle e a Terra do Fogo, com navegação através de glaciares e fiordes incríveis até chegar ao instigante Cabo Horn.
O embarque acontece no final da tarde e, no início da noite, o capitão e sua tripulação reúne os passageiros em um dos salões e dá as boas-vindas a bordo em um rápido coquetel. Assim começa uma grande aventura que percorre o Estreito de Magalhães e canais fueguinos rumo à Patagônia e a Terra do Fogo.
Baía Almirantazgo – O navio navega a noite toda até chegar à baía. Após o café da manhã, grupos de oito a doze pessoas são formados para o desembarque a bordo dos barcos de borracha chamados Zodiac. O vento gelado parece cortar o rosto dos participantes, apesar de todos estarem muito bem agasalhados. Antes de chegar à terra, os botes percorrem a costa com o objetivo de avistar elefantes-marinhos, cormorões e outras aves. E não foi difícil. Em uma praia, dezenas de elefantes-marinhos se exibiam para as fotos dos aventureiros turistas.
Cordilheira Darwin – Pausa apenas para um banho quente e almoço antes de um novo desembarque. À tarde, a navegação acontece pelo Fiorde Parry, onde estão os glaciares que descem desde o centro da cordilheira Darwin – alguns deles chegam até ao mar. A bordo dos botes, os grupos desembarcam rumo ao fundo do fiorde até um local em que possam apreciar o anfiteatro de glaciares, região onde em algumas ocasiões é possível avistar focas leopardo.
Baía Ainsworth – Na manhã do segundo dia, o barco navega através do grande fiorde Seno Almirantazgo, até chegar às imediações do Glaciar Marinelli na Baía Ainsworth, em plena Cordilheira Darwin e dentro do Parque Nacional Alberto de Agostini. Foi nessa região que o cientista inglês Charles Darwin, no início do século passado, reuniu elementos para concluir seus estudos sobre biodiversidade e sua teoria da evolução. A programação em terra inclui uma caminhada para descobrir um dique de castores e um bosque magalhânico sub-antártico que o rodeia.
O comandante e os tripulantes ressaltam que a segurança e o bem-estar dos passageiros está acima de qualquer coisa. Tanto que algumas vezes o tempo ruim impede o desembarque dos cruzeiristas.
Glaciar Brookes – É o destino seguinte, à tarde, onde os passageiros desembarcaram dos Zodiac para realizar uma caminhada pela praia até chegar em frente ao imponente e belo glaciar. O imenso bloco de gelo condensado tem a altura de um prédio de oito andares. Os glaciares são grandes massas de gelo em movimento e, quanto menor a presença de ar no gelo, maior a absorção das ondas azuis do céu, por isso, a cor azulada de alguns deles. O bosque frio e úmido da Patagônia abriga muitas aves e pequenos animais, cujos rastros podem ser percebidos pelo caminho.
Ilha Magdalena – No último dia da viagem, por volta das 7 horas, ocorre o desembarque na ilha, que é parada obrigatória para o abastecimento de antigos navegantes e descobridores. Durante a caminhada até o farol é possível apreciar uma colônia com mais de 70 mil pinguins-de-magalhães, que procuram o lugar para reprodução. A ilha fica próxima da Ilha Marta, outro santuário dos pinguins.
Entre os meses de setembro e abril esta excursão é substituída por um desembarque na Ilha Marta, onde os participantes observam também os leões marinhos.
Tranquilidade e conforto a bordo
Diferentemente dos navios tradicionais de cruzeiros marítimos, os navios da Australis não dispõem de muitas atividades, já que as expedições são as atrações. Durante as viagens os passageiros ficam sem saber o que está acontecendo no planeta, pois não há sinal de celular, internet e nem televisão a bordo. Se precisar se comunicar com o mundo exterior há telefone via satélite pré-pago. O jeito é aproveitar a desconexão para ler, jogar cartas e outros jogos de tabuleiro. Há uma única sessão de cinema com filmes e documentários sobre o destino.
Tudo incluído – Antes do jantar quase todos os passageiros se encontram no bar – all inclusive – para um drinque. Entre os licores e vinhos selecionados a estrela é o Calafate Sour. A culinária a bordo é de nível internacional e cuidada com esmero pelo chef a bordo. O vinho servido é de uma seleção premium. O almoço em sistema de bufê e o jantar servido à la carte são verdadeiros prêmios aos bravos aventureiros do cruzeiro.
Todas as noites durante a viagem são programadas palestras sobre a flora, fauna, história e geografia da região. O objetivo é preparar os passageiros para as atividades do dia seguinte e apresentar a Patagônia, mostrando as suas características e peculiaridades.
No final da viagem, quando desembarquei no porto de Punta Arenas, fiquei imaginando como desbravadores como Fernão de Magalhães, no século 16, em embarcações precárias sem nenhuma tecnologia que conhecemos atualmente, enfrentou as condições climáticas da região. Em comum, provavelmente, apenas a certeza que ele sentiu o mesmo prazer que eu ao vislumbrar o cenário glacial intocado e belo. Impossível não ficar emocionado! Veja o vídeo abaixo.
Serviço
Clima – A temperatura média no verão é de 9ºC, com dias bem longos. No inverno, a média é de 1ºC, e o dia dura pouco mais de 7 horas. No outono e primavera, o tempo é ainda mais instável que o resto do ano. Os ventos aumentam de intensidade de agosto a janeiro.
Equipamento – Para aproveitar sua viagem ao máximo e devido às imprevisíveis condições climáticas, é essencial levar equipamento adequado. Na mala não pode faltar gorro, óculos escuros, bloqueador solar, luvas, jaqueta e calça impermeáveis, suéter e sapatos ou botas de trekking – também impermeáveis.
Informações: tels. (11) 3263-0112 | (11) 97777-4500 e australis.com
O jornalista Roberto Maia viajou a convite da Cruceros Australis, voando com a Sky Airline e com a proteção do seguro-viagem da GTA – Global Travel Assistance
Fotos: Roberto Maia e Divulgação
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