ROSÁRIO – Há 14 anos, o mercado retrô La Huella funciona todos os sábados, domingos e feriados na cidade de Rosário, província de Santa Fé, na Argentina. Mas, tudo começou no final de 2001, um ano de mudanças na ordem mundial e com agravamento da crise econômica argentina. Para fazer frente à situação, o artista plástico Dante Taparelli, que se auto define como um homem do renascimento, teve a ideia e criar um mercado de antiguidades ao ver pela televisão que uma senhora estava sendo despejada e tinha todos os seus pertences na rua. Imediatamente, começou a trabalhar para tornar realidade o plano criar o mercado de antiguidade.
E conseguiu! Inaugurado em abril de 2002, logo foi ampliado com um brechó a céu aberto, o Roperito, incorporado a uma das mais lindas feiras de artesanatos da Argentina. Roperito é um pequeno guarda-roupas e, no início, esses móveis eram colocados na rua para oferecer as prendas: chapéus, echarpes, casacos, luvas e todo tipo de roupas – inclusive da moda super atual. O sucesso do brechó Roperito é explicado pelo gosto do argentino pelas roupas – famoso no mundo inteiro. Portanto, é um mercado ativo e sempre ávido por novidades.
Segundo Taparelli, que é diretor de Desenhos e Imagem Urbana da Prefeitura de Rosário, atualmente essas feiras cumprem importante papel cultural, mas, foram criadas com um cunho social. “Todas as feiras devem ter ‘onda’, ou seja, devem ser maleáveis, com critérios e dinâmica flexível”, afirma.
As três feiras da cidade funcionam em um grande parque céntrico e convivem com espetáculos e atividades de frequentadores habituais, desenvolvendo ações típicas de parque, como piqueniques, bate bolas da garotada, patinação ou, simplesmente, sentar-se na grama e desfrutar de horas de lazer.
Mercado muito atrativo
A criação do mercado La Huella foi motivo de transformação do bairro Pichincha, que era mal visto no passado por ser zona de prostituição. Atualmente, com antiquários que vieram a reboque da feira retrô, bares, restaurantes e centros culturais nas proximidades, dão ao lugar um toque de Vila Madalena. O que pode ser fácilmente percebido pelos inúmeros turistas que frequentam a cidade. Visitantes em sua maioria vindos de Buenos Aires e Cordoba, além de paraguaios e brasileiros, que são vistos em grupos durante os finais de semana prolongados. É, também, passeio obrigatório para os rosarinos que aos milhares usufruem do verde e bem-estruturado espaço urbano.
Rosário, por sua posição estratégica e portuariaria é centro do Mercosul. Nos anos 1920, a Argentina detinha a quarta maior renda per capita do mundo. E a cidade por polo de atividade agropecuária deu sua enorme contribuição. E foi justamente por ser uma cidade portuária que permitiu a entrada do Art Noveaux. Como relata Taparelli, Rosário era um bazar, onde os produtos chegavam diretamente da Europa por barcos, que descarregavam suas mercadorias nas lojas locais. Essa era uma facilidade que o interior do país não dispunha. O frete por trem e outros tipos de transportes tornavam os podutos muito mais caros.
Esses são os motivos que tornaram o mercado de antiguidades de Rosário muito atrativo. É sabido que existem colecionadores de máquinas fotográficas, arte sacra, pintura italiana, prataria colonial, arte jesuítica, etc. Nos 12 museus locais estão apenas uma ínfima parte do que ainda se conserva na cidade, apesar de que durante muitos anos foram “repatriadas” muitas coisas importantes do passado argentino. Contudo é um grande mercado, que guardadas as proporções, acompanha bem de perto o de Buenos Aires. Em linguagem futebolística podemos dizer que jogam na mesma divisão.
Artesanatos – diversidade e quantidade
Os artesanatos de Rosário são famosos, inclusive fora da Argentina. Taparelli o qualifica como um dos melhores do país, senão o melhor. Modestamente concordo com ele. O artesão rosarino é um mestre nessa arte e com uma escola própria. O visitante que tiver a sorte de conhecê-lo irá se surpreender pela vasta quantidade, diversidade e principalmente pela qualidade dos produtos oferecidos. Há uma gama bem surtida de produtos confeccionados em cerâmica, madeira, cutelaria, bijuteria fina, artigos de prata e alpaca. Enfim, muitos são verdadeiras joias.
Como em todos os mercados existe ampla variedade de preços. Pela diferença cambial, os artigos oferecidos nestas três feiras são realmente muito convidativos para o padrão brasileiro. No brechó a céu aberto e na feira de antiguidades é comum os interesados barganharem o preço dos produtos, não acontecendo o mesmo com os artesões. Essa é uma dica que deve ser considerada.
O mercado retrô como proposta é um lugar para resgatar a memória dos rosarinos. Um espaço para se reencontrar com o passado, a partir de objetos que ficaram marcados na lembrança.
Retomando a questão dos museus e centros culturais, os primeiros em sua maioria têm custo mínimo de entrada, não custando mais que US$ 1. Já os centros culturais são gratuítos. Portanto, conciliar uma viagem à cidade conjugando compras nas feiras com a ampla oferta cultural não deve ser desconsiderada.
Cidade dos eventos
Rosário também é considerada uma importante cidade de eventos e um dos principais centros de congressos e convenções da Argentina. Desde pouco antes do Congresso da Língua Espanhola, realizado em 2004, a cidade vem se tornando um importante polo receptor turístico. A prefeitura criou estandes de informação turística no aeroporto, estação rodoviária, porto e no calçadão no centro, onde distribui materiais informativos gratuitamente.
Serviço:
As três feiras de antiguidade de Rosário funcionam no Parque Norte, no Distrito Centro – Rua Bernadino Rivadavia, altura do nº 2.200. Todos os sábados, domingos e feriados, das 10h às 20h.
Informações: La Huella
Fotos: José Eduardo Carvalho Florido