Eva, Mãe Negra, Dona Hermínia, Virgo Maria, Senhora dos Carinhos e Madalena são algumas das figuras femininas e negras, ícones clássicos da tradição religiosa, que estão representadas, de uma maneira nunca vista antes, nas obras da mostra Sagrado Primitivo – O intermédio dos dois mundos. A exposição sacra contemporânea será destaque do Natal Iluminado deste ano, na Paróquia São Luís Gonzaga (Av. Paulista 2378, esquina com a Bela Cintra), com abertura oficial neste domingo, dia 10, às 20h30.
Após o sucesso no Conjunto Nacional (também na Av. Paulista, no início de novembro), a paróquia recebe os 23 quadros, de acrílica sobre tela, com aplicação de folha de ouro, em sua maioria de tamanhos gigantes. O maior deles, O Sagrado Coração, tem 5x3m. As obras retratam a diversidade, discriminação e preconceito e entre outros títulos estão Aconchego, Igualdade, Pranto e O Abraço, Proteção da Fauna e Proteção da Flora.
“Por séculos foi incutida a ideia de que o sagrado é eurocêntrico, permeado de pureza, figuras brancas e loiras, sempre nórdicas e incorruptíveis, enquanto o mundano (humano) é o extremo oposto, com figuras imperfeitas, borradas, deformadas, exalando fraqueza e sexualidade vil”, afirma o autor das obras Lacerdine. Segundo o artista, a proposta do projeto é romper com a cultura do preconceito e ampliar a observação para um autêntico e genuíno que nasce por intermédio entre dois mundos – céu e terra -, no caso o humano.
“A intenção da mostra não é chocar o público religioso, mas propor uma reflexão respeitosa sobre preconceitos e a aceitação da diversidade na produção artística tradicional do sacro. E é despertar os sentidos das pessoas para a manifestação da beleza existente na diversidade do mundo, onde não há espaço para preconceitos, discriminação ou julgamentos”, acrescenta Lacerdine, que também tem uma formação em Teologia e Filosofia e é padre pela ordem dos jesuítas.