Na KLM Royal Dutch Airlines a emoção de apresentar uma pilota antes de um voo é um consenso entre as comissárias. Porém, isso não é algo que acontece com frequência. Na companhia aérea holandesa, apenas 5,8% dos pilotos são mulheres. A capitã Jacqueline Vollebregt, de 53 anos, é uma delas. Ela pilota aeronaves de grande porte como os Boeing 777 e 787, está na empresa há 27 anos e nos próximos meses lança o seu primeiro livro. A seguir, ela conta algumas de suas experiências viajando o mundo nos cockpits.
Quando criança, você sonhava em se tornar pilota?
De modo algum. A carreira acadêmica da minha mãe terminou depois que ela concluiu a escola de economia doméstica, para sua frustração. Por isso ela sempre me disse que eu poderia me tornar o que eu quisesse ser. Mas eu não tinha ideia do que eu queria. Saí da escola aos 16 anos para me tornar mensageira. Durante uma viagem de férias com um amigo, fui convidada a dar uma olhada no cockpit. Foi maravilhoso! Alguns anos depois, eu ainda sentia essa coceira e decidi fazer aulas de voo na Academia de Voo da Martinair. A partir daquele momento, eu sabia que era isso que queria fazer. Mas primeiro eu precisava obter as qualificações certas, então continuei trabalhando como mensageira e concluí a exigência de universidade, estudando no período da noite.
Foi um período difícil?
Para cobrir os custos de frequentar a Academia Nacional de Voo, fui morar com meus pais novamente e trabalhei muito. Durante a semana, prestava serviços de assistência domiciliar e, nos fins de semana, trabalhava em uma loja de departamentos (V&D). Eu também entregava jornais. O problema era que eu só poderia obter um empréstimo do banco se eu investisse pessoalmente 36 mil florins (moeda holandesa utilizada até 2002). Depois de guardar 30 mil florins, peguei emprestado os 6 mil restantes dos meus pais. E então me matriculei na Academia Nacional de Voo aos 24 anos. Dois anos depois, fui recrutada pela KLM.
Capitã Jacqueline como foi o período na Academia de Voo?
Sempre senti que eu tinha muito mais a provar, mas também logo me senti em casa. Felizmente, havia outra mulher na minha classe. Houve muitas observações chauvinistas nos primeiros anos. Um instrutor, uma vez, afirmou que achava que mulheres no cockpit era uma má ideia, porque estavam de mau humor uma vez por mês. Isso foi antes de termos passado algum tempo juntos no cockpit.
Como é trabalhar no mundo dos homens?
Não tem sido um problema nos últimos 27 anos. Todo mundo tem sua própria história. Todo mundo é interessante. Gosto de trabalhar com homens e tenho muito o que discutir com eles. Conversamos sobre todos os tipos de assuntos, de carros e investimentos, a viagens, hobbies e outras coisas. E quando estamos desempenhando as nossas funções no cockpit, a comunicação é sempre direta. Isso é essencial para evitar problemas na operação.
Como os passageiros reagem a você?
Sempre recebo muitos comentários, principalmente positivos. Lembro-me vividamente de uma senhora de 82 anos, subindo a bordo e dizendo: “Esta é a primeira vez que voei e estou emocionada por ter uma mulher capitã!” Mas, às vezes, recebo observações tolas como “preparem-se para uma aterrissagem difícil.” Também me lembro de um homem muito nervoso, que parecia horrorizado quando percebeu que eu era a capitã. “Você poderá nos levar até lá com segurança?”, perguntou ele. Quando eu disse a ele que estava voando há 25 anos, ele se acalmou um pouco.
Como seus colegas na cabine respondem?
Costumo ouvi-los dizendo: Tão legal! Uma capitã! Mas veja, estou apenas fazendo o meu trabalho. Como tripulação do cockpit, voamos com muitas tripulações de cabine diferentes. Muitas vezes voamos com diferentes tripulantes de cabine nos voos de ida e volta. Muitas vezes, quando me apresento aos colegas quando não estou usando meu uniforme, eles demoram um pouco para perceber que sou parte da equipe da cabine de comando.
O que a capitã Jacqueline gosta em voar?
Ainda é mágico pilotar uma máquina tão grande, especialmente quando está tempestuoso e você precisa pousar em ventos fortes. Quando digo isso às pessoas, elas me olham como se eu fosse louca. Mas são esses tipos de desafios que tornam o voo interessante. Alguém que gosta de dirigir também prefere percorrer estradas sinuosas nas montanhas, em vez da estrada. Como capitã, sempre há questões que preciso resolver. Isso exige criatividade e mantém o trabalho especialmente interessante.
Qual é o seu destino favorito?
Pergunta difícil! Existem tantos lugares bonitos, mas se eu tiver que escolher um, eu diria Nova York. É maravilhoso correr e assistir as pessoas no Central Park. Ou vou para o café na livraria Barnes & Noble para trabalhar no meu livro. Gosto de escrever histórias no meu tempo livre, em casa e em minhas viagens. Isso me permite me expressar de forma criativa e faz um bom contraste com o meu trabalho no comando das aeronaves, que é principalmente sobre seguir os procedimentos estabelecidos.
Alguma dica para meninas que sonham em se tornar pilotas?
Vá em frente! Venha e junte-se a nós! Não permita que obstáculos práticos entrem no seu caminho. Se você não fez matemática e ciências, sempre poderá obter essas qualificações posteriormente. Às vezes, ouço as comissárias dizendo que gostariam de se tornar pilotas, mas simplesmente não consideraram isso na época. Nesse sentido, é importante ter um modelo. Duas filhas de amigos meus também se tornaram pilotas. Não estou dizendo que é por minha causa, mas posso ter contribuído um pouco para fazê-las pensar.
Quais são os planos para o futuro da capitã Jacqueline?
Vou me aposentar em cinco anos. Meu marido e eu sempre quisemos dirigir nossa van da Holanda para a Austrália. Esse é um longo caminho e queremos fazer tudo no nosso tempo. Também escrevi um livro infantil chamado Thirsa en het spookvliegtuig (Thirsa e o avião fantasma), que será lançado nos próximos meses. No livro, Thirsa e suas amigas saem em aventuras emocionantes em um avião pequeno que somente ela pode pilotar. Será um sonho ver meu livro nas livrarias!
Informações: KLM.com