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Na natureza selvagem do Pantanal

“Um tuiuiú”, exclamou Vitório Justino, o guia da nossa expedição, enquanto apontava para uma ave gigante acomodada em um ninho no topo de uma árvore. Isso porque ainda nem havíamos chegado a primeira parada da nossa incrível viagem pelo Mato Grosso. Mas o Pantanal já se apresentava com seu animal símbolo.

Localizado na região Centro-Oeste, dividido entre os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o Pantanal tem 150.355 km² de extensão, sendo considerado uma das maiores planícies alagáveis do planeta. Essa característica é providencial para a existência de maravilhas naturais como a imensa variedade de flora e fauna, além de auxiliar na regulação do suprimento global de água.

Nos aventuramos em um dos ambientes com a maior biodiversidade da Terra pela cidade de Poconé, porta de entrada do Pantanal mato-grossense, que fica a pouco mais de uma 1h30 da capital Cuiabá (104 km). É ali que se inicia a Transpantaneira, estrada de terra de cerca de 150 km, onde animais e homens convivem harmoniosamente.

Os períodos de seca (entre julho e agosto) ou cheia (de novembro a fevereiro) definem a paisagem e os tipos de animais e vegetação a serem observados. E prepare-se, pois a lista é longa. Pesquisas apontam que o bioma abriga mais de 260 espécies de peixes, 113 de répteis, 650 de aves e 132 de mamíferos. De acordo com a Embrapa Ambiental, quase 2 mil plantas foram identificadas e classificadas no local, das quais algumas com alto potencial medicinal.

Investe Turismo

Apesar de ser reconhecida pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, a região ainda é pouco conhecida pelos turistas brasileiros e estrangeiros, algo que o Programa Investe Turismo, iniciativa conjunta entre Ministério do Turismo, Embratur, Sebrae/MT e Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, pretende modificar. “O projeto irá acelerar o crescimento, bem como aumentará a qualidade e a competitividade de rotas turísticas estratégicas no Mato Grosso e no Brasil”, comentou o gerente de macrossegmentos do Sebrae/MT, Leonardo Paes da Silva.

Poconé, Nobres, Chapada dos Guimarães, Várzea Grande, Cáceres e Cuiabá foram os municípios mato-grossenses selecionados para participar do plano que receberá quase R$ 2 milhões para capacitação de gestores e aprimoramento de serviços ao visitante, além de ações de divulgação, eventos e rodadas de negócios.

© Arquivo Sebrae/MT

E como a ideia é impulsionar as belezas do estado em velocidade recorde optou-se por localidades próximas a capital. “São regiões mais estruturadas e que já podem atender a demanda”, destacou o secretário adjunto de Turismo, Jefferson Moreno.

O Pantanal é um daqueles destinos que tende a agradar a todos por contar com atrações tanto para quem adora admirar a natureza quanto para os que buscam sossego. E aí já decidiu qual vai ser sua desculpa para ir até lá?

Coração intocado

As delicadas planícies alagáveis do Pantanal embora sejam o menor bioma brasileiro não deixam nada a desejar frente a popular Amazônia, pelo contrário, caso queira observar animais selvagens é bem provável que tenha mais sucesso aqui graças às unidades de conservação.

“Se a Amazônia é o pulmão do mundo, o Pantanal é o coração”, disse timidamente o condutor da Confiança Turismo, Erinaldo Souza. Confesso que achei a afirmação um pouco pretensiosa, mas estava aberta a mudar de opinião e não demoraria muito para que isso acontecesse.

Após quase 3h de viagem, descemos para realizar o primeiro passeio de barco, onde apreciamos antas nadando, revoadas de garças e outras aves, e até demos peixe de petisco para um jacaré chamado Felipinho enquanto aguardávamos o entardecer.

A espera não demorou muito, mas a cada segundo que passava éramos mais devorados por mutucas e pernilongos. Isso porém não é suficiente para impedir que você faça a atividade na Pousada Rio Claro e vou dizer o porque: será uma das imagens mais bonitas que verá na vida!

Bruta plenitude

O pôr-do-sol visto a partir do rio é tão esplêndido que conseguiu deixar todos os presentes em silêncio por longos minutos. Sorrisos enigmáticos apareceram entre os privilegiados. Assim começava a mágica pantaneira.

A sinfonia de pássaros exóticos decolando das árvores, a inquietação dos insetos e o som do grupo de macacos bugios mostram que o despertar se iniciava antes do nascer do astro-rei. Como partimos cedo rumo a Porto Jofre, no fim da Transpantaneira, podemos admirá-lo do meio do nada. Vislumbrar um fenômeno natural em um local inóspito – e ao tempo cheio de vida – dá a sensação de estar perdido e se encontrar no mesmo instante. Coisas que só a natureza selvagem proporciona…

A principal missão em Porto Jofre é observar o maior felino das Américas, a onça pintada. Para isso reserve algumas horas para subir e descer o rio Cuiabá, divisa natural dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a bordo de um barco. Adicione também uma pitada de sorte, uma vez que o animal possui hábitos discretos.

© Pixabay

Vencemos muitos quilômetros de vias fluviais com apenas palpites de onde os felinos poderiam aparecer e após 4h30 de expedição fomos presenteados com a ilustre presença de não uma, mas duas onças! Não sabemos se eram uma fêmea e seu filhote ou um casal, entretanto a felicidade foi geral. 🙂

O melhor período para observação das onças é durante a seca, entre os meses de julho e agosto, uma vez que suas principais presas se concentram ao redor da margem dos rios, baías (lagoas temporárias ou permanentes) e corixos (pequeno canal que liga as águas de rios, alagados e baías próximas).

Nesses locais também é possível observar capivaras, araras, ariranhas, tamanduás, jacarés, socó-boi, periquito, talhamar, trinta-réis e inúmeros outros em meio a plantas exóticas, como a piúva, um tipo de ipê roxo característico da região.

Longo caminho

No fim da tarde, o calor ainda é forte, mas por estar perto da linha do Equador, sabemos que nos restam poucas horas de luz. Dessa forma, apertamos o acelerador para dar tempo de cavalgar enquanto apreciávamos o sol poente na Pousada Piuval.

A Transpantaneira é uma estrada longa com um acesso relativamente difícil, afinal ela é de terra e diretamente afetada pelas chuvas. Então para não ter surpresas desagradáveis, marque apenas um passeio por dia e planeje seu tempo. Bom, depois dessa dica, deu para perceber que não consegui chegar a tempo de ver o pôr-do-sol, entretanto a cavalgada noturna foi ainda mais interessante.

Fora a emoção de me sentir um peão montando um cavalo pantaneiro, uma espécie resistente e adaptada ao local, pude atravessar um trecho de mata fechada, alguns alagados e ser arrebatada com o céu mais estrelado que meus olhos tinham visto. Juro, dava para ver a Via Láctea. Nenhum dos equipamentos disponíveis (smartphone, câmera e GoPro) conseguiu registrar tamanha perfeição. Mas se você duvida digite no Google Imagens “céu Pantanal” e a primeira imagem vai provar o que digo.

A minha estada no Pantanal não durou muito, no entanto, foi o suficiente para me fazer querer voltar para experimentar o contraste de um pedaço esquecido do Éden, uma terra que preserva fauna e flora em seu estado mais primitivo, e justamente por isso, ainda mais encantador.

Fotos: Arquivo Pessoal/ Kate Azevedo
*TRAVELPEDIA viajou através do Programa Investe Turismo, iniciativa conjunta entre o Ministério do Turismo, Embratur, Sebrae Mato Grosso e Secretaria Adjunta de Turismo do Estado do Mato Grosso. 
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