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Noruega: uma revolução culinária silenciosa

No que concerne a gastronomia, crescer na Noruega, entre os anos de 1970 e 1980, era bem desanimador. Os mesmos pratos básicos apareciam no cardápio todos os dias, aliviados apenas com pizzas, tacos e outros importados, nos finais de semana e ocasiões especiais. Nos últimos anos, entretanto, a revolução culinária aconteceu silenciosamente, tanto nos restaurantes quanto nas cozinhas caseiras, marcada pelo aumento da popularidade dos alimentos orgânicos.

Muito se deve à nova onda de prosperidade e à predisposição para gastar mais dinheiro em produtos de alta-qualidade. No entanto, o fator que mais motivou essa mudança foi o reencontro com as tradições culinárias e ingredientes locais. Muitos noruegueses que passaram férias na Itália e França exploraram suas tradições culinárias e sabores fantásticos. Foi então que se identificou o que realmente caracterizava a cozinha típica.

A resposta foi encontrada no caráter único dos costumes agrícolas: carneiros e cabras que pastam pelos campos litorâneos ou nas encostas verdejantes das montanhas. Um clima frio e livre de poluição que proporciona as condições ideais para cultivar frutas e legumes sem o uso nocivo de agrotóxicos. Fazendas modestas e pequenas propriedades que produzem leite, queijo e carne em ambientes saudáveis, sem doenças e onde vigoram regulamentação rigorosa no que trata o bem-estar dos animais. E, finalmente, o extenso litoral, com riquíssimas tradições e opções de pescado e frutos-do-mar.

Ao mesmo tempo, chefs noruegueses receberam reconhecimento internacional com premiações e destaques no cenário gastronômico internacional. Em 2012, por exemplo, o Maaemo tornou-se o primeiro restaurante norueguês a receber três estrelas no guia Michelin. Uma variedade de sabores e tradições também pode ser explorada nos muitos festivais como Gladmat em Stavanger, Smak em Tromsø e Trøndersk em Trondheim.

O carneiro norueguês

A carne de carneiro norueguês tem a reputação de ser uma das melhores do mundo e, sinceramente, o título é merecido. É especialmente macia e suculenta, sobretudo em razão das pastagens verdejantes e vastas áreas de natureza intocada.

Um princípio sustentável aplicado na produção de carne determina que todo o animal deva ser utilizado após sacrificado, permitindo a elaboração de várias iguarias com as partes mais peculiares dos animais.

O fenalår da Noruega é o nome tradicional do pernil de carneiro curado. A iguaria vem de uma longa tradição de pendurar pernis de carneiro para secar no ar das montanhas, preservando a carne para consumo durante o inverno.

Pinnekjøtt, cavaletes de carne de carneiro curada na salmoura ou sal marinho é popular durante o Natal no Oeste da Noruega. Se você tiver muita sorte (e um pouco de coragem), você será oferecido uma cabeça de ovelha. O prata é conhecido como “smalahove” em norueguês, e surpreende pelo excelente sabor.

Quatro tipos de carne que você deve experimentar

O outono é a estação de caça na Noruega e carnes de caça aparecem nos cardápios dos restaurantes e nas mesas dos lares noruegueses. Aqui estão algumas iguarias que não podem ficar de fora quando por lá:

1. ALCE. A carne de alce é uma delícia quando preparada corretamente e seu sabor é comparado ao da carne de veado.

2. RENA. Situado no Extremo-Norte, existem mais de 250.000 renas na Noruega e o povo aborígene Sami é especialmente conhecido pelo pastoreio de renas. A carne é magra e deliciosa.

3. VEADO. Nos últimos anos, a população ultrapassou a de alces nas florestas da Noruega. Normalmente servida em bifes, também pode ser defumada, seca ou curada.

4. TETRAZ. O Tetraz é a ave mais procurada pelos caçadores noruegueses. O peito de uma ave jovem é macio, com um sabor marcante. As pernas e o resto da ave apresentam um sabor mais forte.

O pescado e frutos-do-mar

Os pescadores noruegueses tem vendido pescado e frutos-do-mar para outros países desde o século 12 e , atualmente, a Noruega é o segundo maior exportador de pescado do mundo. As águas gélidas e cristalinas, além do ar frio contribuíram para aumentar o potencial de comercialização do pescado norueguês.

No entanto, para experimentar o pescado no primor de seu sabor e qualidade você deverá visitar um mercado de peixes norueguês numa das cidades costeiras. Ou, ainda melhor, pescar a sua própria refeição. O bacalhau do ártico revela o auge de seu sabor e qualidade durante o inverno, quando muito viajantes chegam ao Extremo Norte com planos de observar as auroras boreais.

Pratos tradicionais com pescado norueguês incluem o famoso salmão defumado, enquanto o peixe salgado (“tørrfisk” em norueguês) foi o maior produto de exportação do país durante muitos anos e ainda é fonte de muito orgulho nas regiões setentrionais, em especial no arquipélago de Lofoten.

Rakfisk, ou truta fermentada é um outro prato tradicional para os mais corajosos. O mesmo vale para o mølje, no Norte da Noruega. Outros tipos de frutos-do-mar são normalmente associados ao Sul da Noruega, como por exemplo os camarões do Mar de Barents, caranguejos e mexilhões.

O reino dos queijos

A Noruega conta com algumas invenções famosas, entre elas o ostehøvel, ou fatiador de queijo. Criado por Thor Bjørklund, em 1920. E por falar nessa delícia, uma variedade de produtores locais vem trabalhando duro para satisfazer mesmo os mais exigentes connoisseurs de queijos. Novamente, a pureza do clima e o frio da região proporciona as condições ideais para a produção do leite de cabra e vaca de altíssima qualidade.

O mais famoso do país é, tradicionalmente, o brunost ou queijo marrom – com o soro de leite coalhado caramelizado. Entretanto, esse sabor não é para qualquer um e muitos estrangeiros experimentam uma vez para nunca mais (nossa dica: saboreie com alguma coisa doce, como os waffles noruegueses).

Nos últimos anos queijeiros locais vem produzindo uma variedade de produtos – tudo desde camembert, queijo azul e produtos tradicionais locais como o gamalost e pultost. Atualmente, você encontra mais de 150 produtores de queijo, espalhados desde o Sul da Noruega até Finnmark (Lapônia) no Norte. Muitos dos negócios são administrados por jovens e ambiciosos produtores, ansiosos para experimentar novas técnicas, temperos e processos de amadurecimento.

Culinária local à maneira norueguesa

A popularização do consumo de alimentos orgânicos tem sido um tema de importância no cenário político da Noruega. Nos últimos anos, o consumo de alimentos sustentáveis explodiu. Além disso, a palavra “kortreist” (literalmente “pouco-viajados”) encontrou seu lugar entre os dicionários de culinária norueguesa. A palavra descreve que a produção e o consumo de comidas locais não depende de transportes com altos níveis de emissão de carbono. Muitos dos produtores locais combinam tradições culinárias históricas com técnicas científicas modernas para o desenvolvimento de alimentos com critérios de segurança ambiental.

Os produtos podem ser adquiridos localmente, ou por meio de grandes cadeias de supermercados que enfatizam a qualidade dos alimentos comercializados por produtores locais. Muitos noruegueses também orgulham-se em cozinhar refeições com os próprios alimentos que colhem.

Fotos: Commons Images e Pixabay

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