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Um universo paralelo chamado Atacama

Deserto do Atacama Foto: Pixabay)

E os encantos da América Latina continuam aqui no TRAVELPEDIA. Lembram quando mencionei na matéria de Colômbia que descobri tarde essa região tão fantástica? Aos que viram, fica a dica de leitura. Quanto a mim, o fascínio começou pelo Chile, em uma viagem rumo ao mais alto e árido deserto do mundo, o Atacama.

Mais do que horizontes de areia, o destino conquista por suas muitas paisagens que parecem ter saído de um filme de ficção cientifica. Para um fã de Star Wars, como eu, é quase que como estar em Mos Espa, cidade do planeta natal da família Skywalker. Ok, a locação original foi na Tunísia, mas o deserto chileno não fica muito atrás.

Vulcões, gêiseres, dunas, formações rochosas, cânions, cactos gigantes, flamingos, fontes termais, piscinas de águas vulcânicas, belas lagoas e salares compõem o impressionante panorama. A diversidade é enorme e as belezas parecem não ter fim. É surreal!

© Carol Maia

Ainda não conheci uma pessoa se quer que não tenha sido arrebatado por este lugar. Como prova que não é apenas deslumbramento pessoal, pedi para duas amigas darem suas impressões. Vão ver que é uma unanimidade. Mas antes, que tal saber um pouco mais sobre este lugar tão mágico?

No território de Antofagasta, na porção norte do Chile até a fronteira com o Peru, abrange cerca de mil quilômetros de extensão e está a aproximadamente 2.400 metros acima do nível do mar. Ou seja, a altitude pode ser um problema para algumas pessoas, bem como o fato de ser 250 vezes mais seco que o Saara. Então se hidrate bastante. E por falar em ambientação, vá consciente que a temperatura é diversificada, variando de 0 °C a 40 °C. Sem contar que venta muito.

Antes que se pergunte como faz para chegar nesse “universo paralelo” te digo já: o aeroporto mais próximo fica em Cálama, a cerca de 100 quilômetros de San Pedro de Atacama, vilarejo, que, mesmo bem simples, tem um charme rústico cativante. Com ruas de terra batida, construções em adobe (considerado um dos antecedentes do tijolo de barro), pequenas lojas e deliciosos restaurantes, a região é repleta de heranças da cultura atacamenha. A gastronomia típica que o diga, com receitas que remetem a essa antiga civilização. E sempre com um ingrediente constante, a quinoa.

© Alto do Atacama

No quesito serviço a vila não deixa a desejar, desde as opções gastronômicas, até as de hospedagem, que tem mais de 50 opções. Do simples ao sofisticado, como os aconchegantes Tierra Atacama e Alto Atacama Desert Lodge & Spa, envoltos pelo silêncio e ambiente natural. Com relação ao que fazer na cidade, não há muito, mas entre as atrações estão a igreja datada do século 16; o centro artesanal e os vestígios arqueológicos do Museu Padre Gustavo Le Paige.

A grande estrela é o vasto deserto aliado as cordilheiras. E a quase 20 quilômetros de San Pedro se encontra um dos passeios mais populares, os vales da Lua e da Morte. O primeiro, na Cordilheira do Sal, como o nome já entrega, é conhecido por ter um solo similar ao lunar. Ali estão formações de areia, sal e rochas, esculpidas pela ação do vento e das águas. Ou seja, obras de artes da Mãe Natureza.

Emoldurado por montanhas, o vale, resultado de uma depressão de origem vulcânica, tem como destaque as Três Marias. Religiosos ou visionários enxergam ali a figura de uma mulher rezando, outra carregando o menino Jesus e a terceira curvada lamentando. Outros pontos da região que valem o olhar atento são o Mirador – com vista para a Cordilheira dos Andes e o Salar de Atacama – e a formação apelidada de Anfiteatro.

© Pixabay

Citei o Vale da Lua primeiro, pois o da Morte é ideal ir próximo ao entardecer, por conta do famoso pôr do sol. Sem exagero foi um dos mais incríveis que já presenciei. Durante esse espetáculo natural a cordilheira encanta ainda mais com tons de vermelho e laranja.

Aproveite a noite para apreciar outra particularidade do Atacama, conhecido por ter um dos céus mais limpos do mundo. O motivo? Uma série de fatores, como a altitude aliada a baixa umidade do ar. O que conta mesmo é o fato de os vales serem ótimos observatórios naturais. No entanto, de qualquer ponto da cidade, é possível ver estrelas.

E aqui vai uma dica que, provavelmente, deveria ter mencionado no começo deste texto: reserve ao menos 5 dias para essa viagem. Há muito que ver e fazer. E se até agora não fico claro isso, lá vai à prova máxima, os outros atrativos locais.

► Quebrada de Kari: cânion de um antigo rio, hoje seco, é repleto de elevações rochosas de argila, gesso e sal. A denominação é do idioma Kunza, que significa marrom, tal como a cor que prevalece ali. Não se espante ao escutar estalos, são em decorrência da dilatação e retração que ocorre por conta das alterações de temperatura.

► Salares do Atacama e de Tara: ambos são parte da Reserva Nacional dos Flamingos, o primeiro, a cerca de 50 quilômetros de San Pedro, é o ponto mais notável de concentração salina do Chile. O pôr do sol também impacta, isso devido ao contraste das gradações de laranja, rosa e roxo com o branco do chão. Já o segundo, por conta da distância da vila (a 140 quilômetros) e do acesso (parte do caminho é sem rodovia e sinalização) é feito através de agências. O tour passa por vulcões e formações rochosas como as Catedrais de Tara, enormes paredes esculpidas pela erosão.

► Lagunas altiplânicas: uma pintura em meio ao cenário monocromático, as lagoas em tons de verdes e azuis, emolduradas pela Cordilheira dos Andes, proporcionam um oásis em meio ao deserto. Entre as mais visitadas estão a Miscanti e Miñiques com um imponente vulcão ao fundo garantindo um visual indescritível. Uma obra de arte a céu aberto. Outra bastante procurada é a Cejar, onde, devido à alta salinidade, é possível nadar se sentindo como no Mar Morto. Já na Chaxa, que fica dentro da Reserva Nacional , dá para avistar inúmeros flamingos.

© Carol Maia

► Vulcões: são mais de 150, sempre tem um no caminho. O Licancabur, com seus 5.976 metros no limite geográfico entre o Chile e a Bolívia é visível de todos os cantos.

► Geyser el Tatio: a 90 quilômetros de San Pedro, a 4.300 metros acima do nível do mar, o campo geotérmico guarda esses gêiseres considerados o de maior altitude do mundo. O passeio pede disposição, já que, para ver a intensidade do vapor e os jatos d’água ferventes, é preciso cair da cama, pois esse espetáculo natural (que não dura muito) ocorre ao amanhecer. Quem quiser pode encarar o frio da região, que pode ser de temperaturas negativas, para tomar um banho quentinho em uma das “piscinas” que se formam e que estão disponíveis para os turistas.

Ufa! Como deu para notar sobram panoramas, lugares e atividades no Atacama, bem como motivos para ir a este destino tão marcante. Mas se uma opinião, no caso a minha, não basta, aqui vão duas imparciais para corroborar:

“Fui em julho de 2015, época bem fria. Mesmo assim é aconchegante. Ousaria dizer que o que vi por lá, e no deserto de sal da Bolívia (continuação da minha viagem), foram os lugares mais lindos que meus olhos puderam ver até o momento. Fotos jamais darão a dimensão de tanta beleza. O pôr do sol do Vale da Morte, por exemplo, eu chamaria de um milagre de Deus. É como se, lentamente, ele fosse apagando a luz do dia; apenas para dar tempo suficiente de admirarmos. As lagunas são uma visão única. Parece um quadro pintado à mão. A Cejar está no meu Top 3, pena que faltou coragem e o frio não me deixou entrar. E quem diria, o deserto tem seus próprios olhos. Os Ojos del Salar são dois buracos formados, segundo boatos, por um meteoro que ali caiu. Poderia falar com detalhes sobre cada lugar. Quem se gaba pelo Brasil ser uma junção de urbanização e natureza impecável, deve, definitivamente, conhecer o Atacama.” – Letícia Lalim.

“O Atacama tem certa peculiaridade difícil de se encontrar em outros destinos. Diferente da Europa, marcada pelos prédios antigos, arte e cultura, o Chile encanta pelas cores vibrantes e paisagens únicas. Em apenas 5 dias é possível ir de areias vermelhas de deserto à lagoas cristalinas com campos verdes e geisers e montanhas cobertas de gelo. Algo que só pode ser dimensionado ao vivo. É praticamente impossível dizer qual meu passeio preferido, mas consigo citar os momentos. O nascer na lua cheia no alto do Vale de Lua; o frio de -13° no alto do geiser completado com um banho relaxante nas águas aquecidas da Termas Puritanas e um dos céus mais brilhantes que já vi. É engraçado pensar que passamos tanto tempo juntando dinheiro para ir para o outro lado do mundo, quando aqui, bem pertinho do Brasil, tem essa infinidade de belezas esperando para serem descobertas” − Samantha Chuva.

Foto do destaque: Pixabay
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