Viagens e gastronomia andam sempre juntinhos. Que o diga Guga Rocha, um dos nomes mais celebrados da nova geração de chefs brasileiros. Amante de viagens, seu passaporte reúne carimbos de 38 países, entre eles Itália, Portugal, Espanha, Tailândia, Indonésia, Grécia, Canadá e França. Ele faz uma cozinha criativa, imprevisível, leve e rica em sabores. Para tanto, realiza contínua pesquisa da cultura nacional, aliada a uma curiosidade pela diversidade e exotismo da gastronomia mundial. É um profundo pesquisador das origens da história gastronômica brasileira, inclusive sobre a culinária quilombola, resgatando e salvaguardando as raízes da nossa cultura.
Nascido em uma família tradicional alagoana, Guga cresceu em meio às panelas de sua avó Edla Ramalho, cuja a arte era reconhecida em todo Nordeste pela delicadeza de suas criações. Com essas fontes de inspiração, criou a chamada Cozinha Tropicalista, um estilo culinário calcado na ideia do movimento tropicalista de utilizar influências das correntes mundiais – sob uma ótica das tradições, da cultura e do folclore brasileiro. “O Brasil na raiz e o mundo na cabeça”, diz.
Apresentador do programa Homens Gourmet , no canal Fox, e do reality show Rio Bar Brasil, no FX, ganhou notoriedade em 2010 com quadro Super Chef do programa Mais Você, com Ana Maria Braga, na Rede Globo. Ministrou aulas sobre a tendência da nova culinária brasileira no Le Cordon Bleu de Otawa (Canadá), e já está programado para palestras – ainda este ano – em Tóquio, Nova York, Nova Zelândia e México. Chama a atenção o seu jeito de conseguir tocar as pessoas e ensina-las a cozinhar se divertindo. Devido a isso, vem desenvolvendo um público enorme, engajado, entusiasta e muito fiel em todas as suas mídias sociais.
É recém-casado com uma diplomata canadense, Elise Racicot, o que o leva a viver na ponte aérea Brasil/Canadá. Passou a lua-de-mel no País de Gales, onde também conheceu bastante dos costumes locais. Voltou para o Brasil e sua viagem seguinte foi para o Alasca, em agosto, onde passou 12 dias conhecendo ótimas técnicas de pesca e as mais diversas espécies da região.
E é sobre essa viagem ao Alasca, o maior estado dos EUA em extensão territorial, que o chef falou com exclusividade ao Travelpedia. Confira:
No Alasca, conheci primeiro a cidade Ketchikan, onde fiquei hospedado no Steamboat Bay Fishing Club. Essa região mais a Oeste há muita natureza ainda intocada e uma paisagem muito bonita. Visitei tribos indígenas e me deparei com a cultura dos totens. Eles ensinaram como era feito e para que era utilizado. Tive um almoço com o chefe da tribo dentro de uma cabana, onde os índios fazem os totens. Foi uma experiência espetacular!
Também fui a lugares onde se pesca e se processa o salmão e outros peixes como bacalhau, lagosta e crustáceos. O beneficiamento é realizado em espaços enormes e tudo muito organizado e conectado com a natureza. Sem dúvida uma ideia de sustentabilidade muito forte.
Tive contato com a natureza selvagem e as florestas boreais. Vi ursos, lontras e outros animais. Também fui brindado com a sorte de ver uma baleia orca, que pulou na frente do nosso barco. Participei de uma pescaria e peguei um Salmão Rei, que foi muito legal. Foram três dias de pesca. Espetacular ver como ela acontece e conhecer os barcos utilizados para pegar o caranguejo da neve em mar aberto. A cultura local é muito viva e apaixonante. Sem dúvida uma situação muito interessante e enriquecedora.
Mas o que eu mais gostei foi poder conhecer aquele povo, que se permite viver em um local tão distante. Gente trabalhadora e desapegada das coisas da civilização e da loucura da cidade grande. Gente que mantém profundo contato com a natureza, coisa muito bonita de se ver. Conhecer os nativos do Alasca foi a coisa que mais me deixou feliz. Fora isso, o lugar é incrível, a comida é espetacular e a natureza belíssima. Também gostei muito de ver as baleias, uma experiência espetacular. Um espetáculo lindo de ver e perceber como elas interagem e brincam com o barco. Muito legal!
Encontro com a gastronomia do destino
A gastronomia local é muito rica, diversificada e centrada em ingredientes de qualidade premium, peixes selvagens, caranguejos de águas profundas e geladas e mariscos incríveis. Sua cozinha típica tem muitas influências eslavas, esquimós e orientais. E tudo feito de uma forma muito simples, saborosa e com muita técnica. No almoço preparado pelos índios saboreamos um delicioso salmão defumado preparado da forma como eles faziam antigamente e ainda utilizada atualmente.
Enfim, conhecer esses sabores e esses saberes foi uma grande descoberta. Foi muito bom mergulhar de cabeça nesse oceano profundo que é a cultura deste incrível estado norte-americano.
Informações: gugarocha.com.br
Fotos: arquivo pessoal/divulgação