Difícil de chegar e, mais ainda, de sair. Esse é o Parque Estadual do Jalapão, localizado em meio a paisagem do cerrado em Tocantins. A região causa suspiros com seus chapadões, rios com e sem corredeiras, serras com clima de savana, dunas alaranjadas e formações rochosas únicas. Contudo, ela não é para qualquer um.
Para vivenciar esse ambiente é necessário ser um turista raiz. Sim, aquele que não tem medo de se sujar e nem espera luxos. Aqui a palavra de ordem é “experiência”, então prepare-se para explorar lugares inóspitos e interagir com as comunidades locais.
O conceito “viagem de experiência” não é algo novo. Entretanto tem ganhado cada vez mais adeptos, especialmente, durante a pandemia. Pesquisa realizada em parceria das agências Somos e Novelo com o Airbnb aponta que os brasileiros passaram a priorizar o contato com a natureza na hora de selecionar um destino. Afinal, nada como se embrenhar no mato para dar uma escapadinha do isolamento sem fim.
A escolha perfeita
O incrível parque do Jalapão foi criado em 2001 e tem uma área de 34 mil km2, maior que a dos estados de Sergipe e Alagoas. Ou seja, dá para imaginar que existam muitas atrações. E, na maioria dos casos, distantes umas das outras. Assim sendo, serão muitas horas sacolejando em uma picape 4×4 para conhecer suas belezas escondidas. Mas eu garanto que compensa!
Imagine que depois de acordar super cedo e enfrentar um baita calor, além de muito tempo de estrada, lá pelo meio-dia, você chegará ao Fervedouro Bela Vista, onde poderá se banhar e ter a sensação de flutuar em um laguinho de espumante. Apesar do nome fervedouro a água não é quente, pois provêm de nascentes de rios subterrâneos, que, ao ficar sem espaço para vazão, formam um tipo de piscina natural.
E bota natural nisso! Por meio de uma ruptura no solo, pequenas borbulhas levantam areia clara e fina naquele poço cristalino e calmo cercado por vegetação nativa, deixando tudo ainda mais encantador.
Tive a sorte de ser a primeira pessoa a entrar no local naquele dia e pude aproveitar meu oásis particular por cerca de 15 minutos. Além de ficar surpresa ao perceber que era impossível afundar dada a pressão do fluido que jorra da terra.
A região mantinha-se quase desconhecida graças a dificuldade de acesso. Mas com a novela “O Outro Lado do Paraíso”, exibida em 2017, tudo mudou. O número de visitantes triplicou colocando-a no mapa.
Em geral, os turistas são atraídos, especialmente, pelos inúmeros fervedouros de diversas cores, tamanhos, formatos e intensidade de flutuação. Estima-se que existam mais de 20, todos dentro de áreas particulares, entretanto apenas 8 estão abertos à visitação, são eles: Ceiça, Alecrim, Encontro das Águas, Buritis, Buritizinho, Rio do Sono, Macaúbas e Bela Vista.
Pérolas – quase – secretas
Nem só de fervedouros, vive o Jalapão. Conforme comentado acima, o local não deixa a desejar e dá uma surra de beleza, seja pela fauna e flora exuberante ou por atrativos naturais, como a Serra da Catedral. Situada entre os municípios de São Félix do Tocantins e Novo Acordo, a área conta com uma escultura, ou melhor, uma formação rochosa de 180 metros que se assemelha à fachada de uma igreja. Araras, águias e maritacas substituem o órgão, fazendo uma doce sinfonia. Uma pena que fotos não tenham som.
Outro passeio interessante é a visita a Comunidade Quilombola de Mumbuca, onde conhecemos um pouco mais dos costumes e de seus residentes. É onde se produz um dos mais belos artesanatos do País, o do capim dourado. As mulheres confeccionam cestas, brincos, mandalas, pratos, pulseiras, colares e mais um monte de coisas com maestria e de extremo bom gosto. Até eu que não sou muito fã desse tipo de arte, não resisti e saí com um marcador de página e um imã. Aliás, fica outra dica: foi por lá que experimentei o delicioso sorvete de buriti que conquistou meu coração. Mas que, infelizmente, nunca mais encontrei.
Também vale – muito – a pena cair da cama por volta das 3h30 da manhã para realizar um trekking e subir a Serra do Espírito Santo para se deslumbrar com o nascer do sol. Ok, eu sei que sou a louca do nascente e poente. Todavia, tente fantasiar que está assistindo o amanhecer em um longo e reto platô de arenito a 250 metros de altura com paredões a perder de vista. É indescritível.
Colírios naturais
Não deixe de dar um mergulho na mais bela cachoeira que já vi em meus 35 aninhos, mais conhecida como Cachoeira da Formiga, que fica na cidade de Mateiros. Nada se compara a cor verde esmeralda de suas águas repleta de peixes e contornada por grandes árvores que fazem um jogo de luz e sombra deixando tudo ainda mais maravilhoso. Dá vontade de ficar horas por ali tirando um milhão de fotos…
Tome fôlego e siga o rumo do Cânion Sussuapara, nas proximidades de Ponte Alta do Tocantins, e só pare quando chegar aos paredões de aproximadamente 25 metros de profundidade. Até alguns anos atrás eles eram repletos de água, mas foram drenados pela plantação de eucaliptos há quilômetros dali. Faça uma pausa para aproveitar o frescor e observe as samambaias gigantes e musgos enquanto faz um pedido. De acordo com os nativos, o cânion realiza desejos, então não custa pegar uma pedrinha e encaixá-la nas fendas enquanto mentaliza-os.
No fim da tarde não perca a oportunidade de contemplar o pôr-do-sol nas Dunas do Jalapão ou na Pedra Furada. Apesar de ambas serem legais, sou obrigada a dizer que o que vi nas dunas foi inesquecível. Juro!
As dunas são formadas por milhares de anos de erosão das rochas da Serra do Espírito Santo e da ação dos ventos que depositam grãos de areia por ali. Além do mais, possuem uma coloração dourada/alaranjada limitada por um rio e pela vegetação nativa. Na hora do entardecer, o cenário fica ainda mais magnífico. Logo sente-se e aprecie sem moderação.
Dicas preciosas
O Jalapão pode ser visitado durante o ano inteiro graças ao calor característico de lá. A época de chuvas vai de dezembro a março, mas como é verão as pancadas são passageiras. Nesse período o clima fica mais ameno e a vegetação mais verde. A temperatura chega a 35oC. Entre maio e agosto, as noites costumam ser frias variando de 13o a 20oC.
Não se esqueça de levar protetor solar e repelente para evitar ser devorado por insetos. As cidades da região são pequenas e com pouca estrutura, então é provável que o comércio local não atenda suas necessidades.
Evite usar roupas novas ou desconfortáveis. O Jalapão pede simplicidade, ou seja, aposte em tecidos leves que secam rápido, tênis ou botas para trilha laceados, bonés e óculos escuros.
E, o principal, tenha carregadores portáteis, máquinas fotográficas, drones ou o que você preferir para registrar milhares de momentos que ficarão em sua memória. 😉
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