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Romênia: Braşov, uma porta para o passado na região da Transilvânia

Um em cada um viajante que chega a cidade de Braşov (diz-se Bra-xov), na Romênia, foi até lá para conhecer a bela e misteriosa Transilvânia, região que tem como atrativo mais conhecido o Castelo de Bran, popularmente conhecido como Castelo de Drácula. Mas, antes de falar desse inesquecível personagem criado por Bram Stoker, explico os pormenores para alcançar essa bela cidade.

Há três opções para chegar a Braşov: ônibus, trem ou aluguel de carro, sendo as duas primeiras as mais viáveis, pois as estradas romenas não são boas, quase ninguém fala inglês e a chance de se perder por não entender as placas é grande!

Eu e meu namorado escolhemos o trem, partimos cedinho da estação Gara de Nord, no centro de Bucareste, em direção a Braşov sem saber muito o que esperar. Já tinha me informado que a cidade era o ponto de partida de qualquer turista que quisesse se aventurar pela Transilvânia, porém era só isso.

© Pixabay

Após 2h30 de viagem, a locomotiva começou a diminuir a velocidade para observarmos com mais clareza as montanhas, as frondosas árvores e a névoa que teimava em dissipar. Bem, pelo menos foi o que achei, depois descobri que a linha férrea passava por curvas fechadas e desfiladeiros pouco antes de alcançarmos nosso destino: Braşov.

Descemos em meio a típica confusão romena. Gente falando alto, pessoas tentando entrar no vagão antes que pudéssemos sair, vendedores, taxistas e pedintes disputando a atenção dos recém-chegados, enfim nada que dois brasileiros não estivessem acostumados. Meu namorado e eu nos informamos sobre um ônibus que nos levaria a Bran e decidimos pegá-lo antes mesmo de deixar as bagagens no hostel. Quer dizer, tentamos. Quase ninguém fala inglês no interior da Romênia, então prepare-se para usar o Google Tradutor, gestos, mímicas e uma boa dose de bom humor para se virar.

© Shutterstock

Entramos num ônibus caindo aos pedaços que nos deixaria na porta do Castelo de Bran pouco mais de uma hora depois, mas as coisas não ocorreram como esperávamos. Paramos em uma rodoviária minúscula no meio da área industrial de Braşov. O motorista desceu e desapareceu. Não havia ninguém mais no local às dez horas da manhã de uma sexta-feira. Descemos e corremos para um táxi.

O taxista não entendia nada de inglês, porém falava francês. Meus 3 anos de curso de francês finalmente serviram para alguma coisa e expliquei para onde queríamos ir. Conversamos sobre futebol, sobre o euro e a Romênia. Aliás, ele comentou que os romenos admiram muito o Brasil. Achei fofo. 🙂

No Centrum Hostel, encontramos a Lulu (recepcionista/gerente/garçonete) do local que nos explicou o A+B da cidade e indicou o jeito mais fácil de chegarmos ao castelo. Deixamos as malas e corremos para a rodoviária, que ficava a cerca de 20 minutos a pé, para pegarmos o próximo ônibus. Depois de pouco mais de uma hora de viagem vimos o imponente castelo surgindo no horizonte.

Território sombrio

© Kate Azevedo

Construído em 1211, o Castelo de Bran é uma antiga residência real que abrigou por algum tempo Vlad Drácula, o homem que supostamente serviu de inspiração para Bram Stoker criar o personagem Conde Drácula. O vampiro mais famoso da ficção foi concebido a partir da história real de que Vlad, que era conde, mas era visto como um príncipe defendeu a região da Valáquia dos ataques do Império Otomano.

© Pixabay

Como ele fazia isso? Usando exércitos como todos os reis, entretanto nosso “querido” Vlad gostava de realizar “experimentos” com derrotados e conterrâneos, entre os quais torturar e empalar suas vítimas. Mas ele bebia o sangue? Não há comprovação científica, no entanto, as lendas romenas garantem que sim e dizem que não era o único.

Em todo caso, andei de cachecol durante toda minha estadia. Nada de pescocinho à mostra só por garantia. O que importa é que, o irlandês Bram Stoker mesmo sem nunca ter ido a Transilvânia usou a controversa trajetória de Vlad para criar o vilão com maior número de aparições – diretas ou indiretas – na mídia, segundo o Guiness Book.

Se a reputação de Vlad é polêmica, a fortaleza é de uma beleza irretocável. Localizada em cima de um monte e apoiada nas rochas, a edificação está no meio de um vale lindo que tem como pano de fundo as montanhas dos Cárpatos. Prepare-se para andar por caminhos estreitos, visitar a sala de tortura com inúmeros equipamentos usados para esse fim, admirar o jardim interno, o mobiliário antigo, a biblioteca, etc. Confesso que o interior do castelo medieval não é assustador como eu pensava, mas seu exterior é o cenário perfeito para um filme de terror.

© Shuttestock

Agora mais uma surpresa: apesar dos estudiosos garantirem que Vlad morou ali pelo menos por alguns dias escondido na masmorra, outra personalidade romena viveu por lá muito mais tempo, a Rainha Maria. A partir de 1920, a realeza do país passou a morar na residência e deixou marcas significativas na construção, como tapetes e roupas, expostos nos cômodos. Quando a rainha morreu, o castelo foi herdado por sua filha, a Princesa Ileana. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a família real foi expulsa e o regime comunista passou a comandar a fortaleza.

Em 2005, o governo romeno aprovou uma lei restituindo bens ocupados pelo antigo regime comunista a seus donos originais, no caso, os descendentes da princesa Ileana. Em 2014, o castelo foi colocado à venda 58 milhões de euros, valor equivalente a R$ 253,7 milhões. Não se sabe se o local recebeu alguma proposta de compra, mas atualmente ele continua funcionando como museu. Minha dica é passar uma tarde no vilarejo de Bran. Não vá para se hospedar a menos que queira visitar a Fortaleza de Râșnov, que fica pertinho dali.

De volta para o futuro (ou quase)

© Kate Azevedo

Voltamos à Braşov no início da noite e resolvemos aproveitar para fazer novos amigos e relaxar no pub localizado no porão do Centrum Hostel. No dia seguinte, acordamos cedo e, mesmo com a forte névoa, saímos para descobrir a cidade. Estávamos próximos ao centro histórico, porém não havia pesquisado muito para não tirar o mistério do local. De longe avistamos a cúpula do que parecia ser uma igreja gótica, contudo resolvemos nos perder indo para a Citadela, bem no alto da cidade.

Lá dentro existem restaurantes e lojinhas em casas antigas perfeitas para uma boa foto e com entrada gratuita. Quando estive lá estava fechada, mas a vista compensa e muito! Também dá pra pegar um teleférico que te leva ao letreiro com o nome da cidade. Sim, #hollywoodfeelings total!

© Kate Azevedo

Descendo a trilha voltamos para a Piata Revolutiei, praça que foi palco das manifestações da Revolução de 1989 que culminaram na queda do regime comunista de Nicolae Ceaușescu. Ali há um monumento em homenagem aos corajosos que lutaram a favor da libertação do país, além de muitas marcas de balas nos prédios.

Seguindo o caminho da enorme cúpula da igreja gótica, paramos na Piata Sfatului, a principal praça da cidade, onde está localizada a prefeitura, que atualmente é um museu. Ela é cercada por lindas edificações dos séculos 18 e 19, que presenciaram humilhações públicas, castigos e morte de bruxas no passado.

A beleza do local nos faz parar para admirar o vai e vem dos transeuntes vestidos com roupas modernas em contraste com a arquitetura medieval. É algo tão único que fica difícil não se maravilhar…Alguns passos depois e zapt: encontramos a igreja!

© Vlad Moldovean via WikiCommons

E que igreja! A Biseria Neagră (Igreja Negra, em português) é uma catedral gótica enorme construída pela comunidade alemã da região e inaugurada em 1542. Ela recebeu esse nome devido a um incêndio que quase a destruiu. E quando falo que a catedral é grande não é exagero, pois os romenos brincam que é quase impossível fotografar o monumento por inteiro dado a seu tamanho avantajado, ou seja, você deve escolher o que quer registrar: a parte de cima ou a debaixo!

De lá decidimos conhecer a Strada Sforii, a rua mais estreita da Europa, que não tem nada demais exceto por ser bem apertada. Vimos que haviam algumas torres medievais nas redondezas e como já estava no fim da tarde resolvemos subir até elas para apreciar o cair da noite.

O panorama das Torre Negra e da Torre Branca são as imagens que guardo com mais clareza dos meus primeiros passos no coração da Transilvânia. As luzes da cidade sendo ligadas enquanto uma brisa leve trazendo os primeiros flocos de neve da temporada na Romênia me marcaram imensamente.

Foi como se minha vida parasse por alguns instantes. Fiquei em silêncio para apreciar a paisagem e chorei pensando em todas as pessoas queridas que gostaria que tivessem a chance de ver um lugar como aquele comigo. Tive a impressão de estar sozinha viajando ao passado e só então percebi que estava sentindo na pele a primeira cicatriz que a Romênia me deixara: o amor.

Foto do destaque: Shutterstock
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